quinta-feira, 27 de junho de 2013

"Temos que voltar à medicina antiga"

O médico Luiz Roberto Londres, à frente da Clínica São Vicente, na Gávea, é contra o modelo de negócio das redes de hospitais ligadas a planos de saúde

Luiz Roberto Londres se formou em medicina em 1965, no tempo em que a Escola Nacional de Medicina ficava no campus da Praia Vermelha. Em 1969, transformou a Clínica São Vicente, na Gávea, em hospital geral. É contra o modelo de negócio das redes de hospitais ligadas a planos de saúde e a consulta médica que transforma o tempo de conversa com paciente em análise de exames. Abaixo, a íntegra da entrevista ao GLOBO.

Como o senhor vê a prática da medicina hoje?
Tudo o que aprendi eu devo à medicina pública e beneficente. Era o orgulho dos médicos o trabalho público, de ensino, pequisa e beneficente. Medicina é uma missão. Hoje a gente vê que outras dimensões estão sendo mais valorizadas que as pessoais: tamanho, empresa, dinheiro, conglomerados. Está se pervertendo uma atividade que é basicamente humana.

O que deve mudar então?
Tenho um profundo embasamento ético. Quando aceitou-se que pessoas ou instituições que deveriam estar servindo à medicina, dela se servissem, a coisa começou a mudar. O código de ética é muito claro. O que gostaria de ver é ressurgir a chama de uma atividade basicamente beneficente e pública. Claro que se pode ter o particular e ganhar dinheiro com isso, mas tem que ser transparente, e a relação médico-paciente tem que ser respeitada.

Como conciliar esse espírito na iniciativa privada?
Peter Drucker disse que o hospital é a empresa mais complexa que se conhece, é um monstro de duas cabeças, administração e assistência, em que uma não pode matar a outra. Vemos com frequência empresas entrando na administração de hospitais e esquecendo essas características. Fazem protocolos. A gente aprende que medicina são normas gerais aplicadas a casos particulares. Como as roupas, que vêm em tamanhos semiprontos, mas têm que ser ajustadas de acordo com o corpo de cada pessoa. Tem que se entender a peculiaridade de cada um. Temos que voltar à medicina antiga, claro que com toda a tecnologia que dispomos, mas sem perder os princípios. Quando os meios viram os fins, os princípios desaparecem. O paciente é que deve ser o fim.

Mas como mudar na prática?
(O termo) medicina diagnóstica, que se vê por aí, é uma mentira. O que existe é exame complementar. Um bom médico consegue ter uma hipótese correta em 90% dos casos, porque conversa com o paciente. A medicina seria baratíssima se ela se fiasse no encontro. Haveria menos hospitalização, menos cirurgias e menos exames complementares. Como hoje as escolas não ensinam mais, estão cada vez piores, os médicos não conversam, pedem exame e operam sem saber. Claro que quero ter internações aqui (na São Vicente), mas sem ferir um único preceito do código de ética.
É possível melhorar essa relação na saúde pública? Precisa-se de mais dinheiro?
Dizem que o problema é financiamento... será que é? Acho que falta comprometimento de todos. Todos estão preocupados com sua coisinha, sem participar. Temos que fazer a diferença como autoridade. A presidenta é apenas nossa representante. Como a gente aceita que nossa saúde pública seja um lixo? Antes, os presidentes não se tratavam no Sírio-Libanês, mas no Hospital dos Servidores do Estado. É uma inversão de valores, quem paga o atendimento deles no Sírio-Libanês somos nós. Qual o problema então? Falta médico, ou há médicos concentrados? E será que temos leitos hospitalares de menos? Tem leitos hospitalares ocupados indevidamente.

As grandes redes de hospitais dominam o mercado no Rio. O senhor não se sente uma espécie de lobo solitário neste cenário?

Quem está por trás da rede D’Or? É o Banco Pactual, um banco! Os bons de São Paulo fazem parte de rede? São todos lobos solitários, não são?

Mas, em São Paulo, os bons são associações beneficentes...

Aqui (o São Vicente) não é beneficente pela sua formação. Mas na sua atuação é. Aprendi com meu pai que aqui não se distribui dividendo para não criar conflito. Sou assalariado, bem assalariado, tenho patrimônio. Mas minha atividade não é contra, em nenhum instante, o atendimento ao paciente. Em lugar nenhum no mundo rede é tido como hospital de qualidade. Fazem alarde? Fazem. Criar um clima de relacionamento é fundamental para um bom atendimento. O paciente percebe muito mais um bom ambiente do que o atendimento em si. É gente cuidando de gente.
Qual modelo é então o ideal?

Tem que ter a relação médico-paciente. O modelo de hospital geral há muito tempo está se desfazendo. Tem que segmentar. Há pacientes que não precisam vir ao hospital. E outros que deveriam ter saído do hospital. Vai-se hoje em qualquer CTI e se vê mortos-vivos, pessoas que não precisam mais de tratamento intensivo, mas sim de vigilância intensiva. É possível inclusive desonerar os seguros, desocupando os leitos de CTI e os destinando àqueles que realmente precisam. O que existe hoje não é falta, é distribuição. Hospitais hoje passaram a ser o centro da medicina. Está errado. O centro da medicina é o consultório e o ambulatório. Procure saber a quantidade de exames normais e outros que sequer têm os resultados procurados depois.

Como o senhor faz para evitar estes excessos no seu hospital?
Não posso interferir na ação médica. Posso verificar se tem médico que me interessa ter ou não. Não posso interferir na conduta, mas posso não aceitá-la, é outra coisa.
É verdade que o senhor toma suco de beterraba em vez de remédio para colesterol?
Não, é chá de berinjela. Um dia, estava no avião e um comissário me recomendou. Controlo com chá e não com estatina. E mais: quando estudei, o normal de colesterol era 240 (miligramas por 10 litros), hoje é 200. Imagine a quantidade de pessoas que toma remédio por causa disso. Minhas artérias estão perfeitas. Não trato o colesterol, trato as consequências, minhas artérias não têm sinal de depósito. A glicose era 120 (mg/dl) e hoje é noventa e tantos. Estão hospitalizando a doença e “medicalizando” a vida. Tem que se ensinar a fazer exercícios, a comer bem, de forma saudável. Na minha juventude, praticamente não conheci obesos mórbidos.

O senhor se acha com uma visão romântica da medicina?
Sou romântico, posso ser, mas se o meu modelo de medicina há 15 anos dava 40% de economia, daria muito mais hoje, mas não interessa a ninguém. Nem aos seguros, aos hospitais, aos laboratórios, às farmacêuticas, a ninguém. Só ao paciente. Os protocolos roubam o discernimento e o espírito crítico da pessoa, que passa a simplesmente cumprir os protocolos. A medicina tem três mil anos, a ciência tem 500 anos. Então, querer reduzir a medicina à ciência e à alopatia é desfigurá-la.

A sua maneira de pensar medicina já trouxe dificuldades para o hospital, inclusive econômicas?
Revezes em um momento de afoito podem até ter ocorrido. Mas quando se planeja direito, no fim dá certo. Quando fiz o centro cirúrgico, à revelia do meu pai, me endividei bastante até a chegada do cirurgião Fernando Paulino (1906-1990). Hoje aceitam-se distorções. Quando vejo um hospital do Rio vendido para um plano de saúde, tem gente que fala que é bacana. Pode ser para eles, mas não para o Rio. Fala-se (em ter mais hospitais) para ter ganho de escala. Faça a escala então com um só. O (restaurante) Antiquários não vai bem, obrigado?
Mas o Antiquários abriu uma filial lá na Barra...

(risos) É, abriu lá no Barra Shopping. Mas hospital com não sei quantos leitos é um perigo, porque cai na ideia de que normas são mais importantes que atendimento pessoal. Tentaram comprar (a clínica), você não faz ideia. Prefiro ter o hospital preservando minhas ideias. Felizmente consegui passar isso para meu filho.

5 comentários:

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